Você já ouviu falar sobre a audiodescrição? Entrevistei a minha amiga e colega de profissão, a Márcia Caspary. Ela é locutora comercial, atriz e, principalmente, audiodescritora!
Perguntei para ela como ela começou e como é o mercado de audiodescrição.
Se você quer saber mais sobre esse mercado e até sobre o mercado de locução comercial no Sul do país, não pode perder essa entrevista!
Regina: Márcia, quero que conheçam como você começou sua carreira. Você começou como locutora de comerciais ou radialista?
Márcia: Comecei como radialista e DRT, porque precisamos ter…
R: Não é que temos que ter, mas ajuda, principalmente quando estamos começando. Tudo o que pudermos absorver de cursos, sempre traz algo de positivo.
M: É verdade. E quando pedem e não temos, ficamos na saia justa. Acho é um impedimento para contratação.
R: Mas então, conta como você começou.
M: Morei no interior do Rio Grande do Sul, no litoral, na divisa do estado com Santa Catarina, em Torres. Como também sou atriz, uma vez, no palco, conheci uma pessoa do rádio ele me disse que minha voz era linda! Desde então comecei a trabalhar em rádio, desde antes dos anos 2000.
R: Mas você tem quase 30 anos de carreira!
M: É verdade!
R: Não sei se hoje em dia é bom falar que se tem 30 anos de carreira ou não. Mas acho que temos que ter muito orgulho em falar isso. Em diz: “Estou na ativa e passando conhecimento para frente”, que é o que você está fazendo.
M: Sempre que posso, que tento um curso, faço porque penso que sempre temos que nos reciclar, aprendendo e compartilhando saberes.
R: E aí você começou no rádio…
M: Comecei no rádio em Torres, fazia cobertura de eventos. Depois muitas pessoas me disseram para voltar para a capital, Porto Alegre, em 1998. Depois de uns anos, montei um home studio, em 2006, e em 2008 conheci a audiodescrição. Nessa época, já era profissional da voz, e por ser uma profissional da voz me chamaram pra fazer audiodescrição. E logo pensei do que se tratava.
R: Antes de entrarmos na audiodescrição, tenho certeza que quem é do RS ou SC quer saber: e o mercado de locução comercial regional, funcionava? Você conseguia viver da sua profissão? É uma das perguntas que sempre me fazem e acho legal o profissional que tem uma carreira de sucesso compartilhar.
M: É sazonal. Tem aquelas datas importantes. Existem, realmente, momentos em que somos bastante requisitados. Teve um momento auge em que eu gravava todos os dias… Mas era bem feliz, vivia em estúdios. Claro, às vezes até perdemos a conta de quanto estamos nos capitalizando.
R: Sinto também que a carreira de locução comercial, hoje, abre um leque gigante para uma série de atuações, o que acabou acontecendo com você com a audiodescrição.
R: Vamos entrar nessa área, como foi isso? O que é e como aconteceu a audiodescrição?
M: Então, audiodescrição é um recurso de acessibilidade comunicacional que transforma imagens em palavras. É uma tradução intersemiótica, porque passa do visual para o verbal.
R: Quem não tem a visão, vive em um mundo totalmente auditivo, então ela transcreve essa imagem em áudio. E esse mercado tem aumentado gigantescamente!
M: Está mesmo! Porque depois da LBI (Lei Brasileira de Inclusão), também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei 13.146/15, que levou 15 anos tramitando, os direitos de pessoas deficientes aumentou. Há mais inclusão e acesso à educação, ao lazer… Enfim, a uma série de coisas.
R: Tem a audiodescrição, a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), que é para a comunidade surda…
M: … E a legenda, que também é chamada de legenda descritiva, mas o certo seria legendas para surdos e ensurdecidos. Às vezes, as pessoas acham q só a legenda basta, ou só a LIBRAS. mas é diferente. Tem a pessoa que nasceu surda, então ela se comunica em LIBRAS; o ensurdecido, que é a pessoa que perdeu a audição, que geralmente vai usar a legenda… Existe uma diversidade muito grande de deficiências.
M: Quase 25% da população tem necessidades especiais, sejam físicas, intelectuas, leves ou graves.
Se praticamente 1/4 da população tem algum tipo de deficiência, e sabendo que essas pessoas moram pelo menos com mais 1 parente, é metade da população que às vezes nem sai de casa porque não tem acessibilidade nos lugares. Não tem um intérprete de libras…
Mas é um caminho muito feliz que estamos trilhando, porque vejo que o brasileiro é muito receptivo a essas mudanças, a acolher e se solidarizar com o outro. Os recursos de acessibilidade que basicamente são audiodescrição, LIBRAS e legenda, hoje, na produção audiovisual, vem com toda a força. Os projetos pedem e exigem isso.
R: E existe a falta de profissionais no mercado! Não aventureiros, de pessoas que não sabem fazer e se colocam a fazer isso. Você acha que para o locutor que já tem uma técnica vocal é interessante?
M: É maravilhoso! Na audiodescrição, a preferÊncia é dada a profissionais da voz e para atores, dubladores, pessoas que já conhecem a sua ferramenta. Já sabem dar uma entonação correta ou uma interpretação, porque ela exige isso. Já foi-se o tempo em que se dizia que deveria ser algo neutro…
R: Ia perguntar isso: o que conhecemos de audiodescrição é que tem que ser uma locução neutra, mecânica, artificial.
M: Muitas vezes pedem isso por relação de custo mesmo. Mas é que todo o processo e a cadeia produtiva desse recurso é grande. São muitos os profissionais que estão envolvidos nisso… Quando as pessoas conhecem, percebem que isso leva tempo para fazer, que não é qualquer coisa, não é qualquer um, nem em qualquer lugar ou equipamento. É uma responsabilidade muito grande. Pessoas com deficiência visual participam do processo também, são os nossos consultores.
R: Me explica como funciona esse consultor.
M: O consultor necessariamente precisa estar presente no processo, porque ele vai ser o público, o representante do público que está recebendo aquela informação. Ele tem que ser capacitado como audiodescritor porque tem diretrizes básicas padrões a serem que são importantes a serem levados em conta, até para nortear o trabalho das pessoas que fazem o roteiro.
Existe o audiodescritor roteirista, consultor e narrador. E é narrador, não locutor, porque não necessariamente precisa ser um locutor, um profissional da voz.
R: Mas é um profissional que tem a habilidade da voz.
M: O ideal é que seja, pois existe maior procura por esses profissionais, por atores e dubladores. Mas não necessariamente!
Como hoje, algumas pessoas que começaram fazendo audiodescrição não são profissionais da voz, apesar de estarem fazendo e muito bem, mas vem-se aprimorando. Então, percebemos que quando é feito por um profissional da voz, é diferente!
R: Aqui no Brasil, em vez das pessoas começarem com cursos, começa-se na prática. Mas isso tem mudado bastante e a internet vem pra mudar isso.
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